Baixe Glossário de álcool e drogas e outras Notas de estudo em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! GLOSSÁRIO
DE ÁLCOOL
E DROGAS
5 Sumário Prefácio à presente edição 07 Introdução 09 Agradecimentos 11 7 Prefácio à edição brasileira O consumo de substâncias que podem produzir alterações mentais acompanha a humanidade há milênios. Durante esse longo tempo, diferentes grupos de pessoas passaram a associar essas substâncias a contextos variados, incluindo festas e comemorações, rituais religiosos, tratamentos de doenças, etc. Além disso, várias dessas substâncias têm o potencial de induzir, em algumas pessoas, um padrão de consumo problemático e com perda de controle, denominado dependência. A dependência não acontece com todos os usuários, mas quando ocorre, pode ser entendida como uma doença. Interessantes essas substâncias, as drogas: algumas podem ser úteis no tratamento de doenças, mas elas próprias podem gerar doenças. Assim, podem ser muito diferentes os conceitos que uma pessoa tenha com relação a essas substâncias se ela for um profissional de saúde, tiver um familiar ou amigo com consumo problemático de substâncias, ou um jovem consumidor que observa várias pessoas de seu grupo experimentando substâncias sem aparentar maiores problemas. Diante desse cenário, entende-se como muitas vezes é difícil que diferentes interessados no tema álcool e outras drogas consigam estabelecer um diálogo produtivo. Por exemplo, a própria palavra “droga” pode assumir significados diversos para pessoas diferentes: um medicamento, uma substância usada para diversão, um veneno, algo que “vicia”. Às vezes, ao denominarmos de “drogas” algumas substâncias que, do ponto de vista técnico, poderiam perfeitamente ser entendidas como tal, geramos discordância e até protestos. Mas não é de se estranhar que haja esse tipo de desentendimentos, se as pessoas usam a mesma palavra para significados tão diversos. Para auxiliar numa maior clareza de conceitos e, portanto, facilitar a comunicação é que são importantes trabalhos como esse “Glossário de Álcool e Drogas”, elaborado por um grupo de pesqui- sadores internacionalmente reconhecidos por suas contribuições na 10 Em linhas gerais, optou-se pela ordem alfabética de expressões ou frases segundo a forma mais provável de sua busca (ao invés de palavras isoladas), o que significa sua ordenação segundo um adjetivo ou um substantivo (mais relevante na expressão). Forneceram-se, sempre que pareceu útil, referências cruzadas com outros termos e expressões. Se, por acaso, um termo não for encontrado, recomenda- se que o leitor busque-o por outro componente de expressões em que possa figurar. Sobretudo, recomenda-se a consulta de verbetes cognatos, nos quais termos relacionados entre si são freqüentemente definidos, de maneira explícita ou implícita. Sempre que pareceu adequado, incluíram-se os códigos das categorias diagnósticas da CID-102, em geral ao lado do verbete inicial, mas ocasionalmente no corpo do texto da definição. Os nomes das drogas seguem as recomendações da lista internacional de nomes genéricos (INN)3. Usou-se o negrito em certas palavras ou frases constantes das definições para indicar que esses termos são também definidos alhures no glossário. Thomas Babor Robert Campbell Robin Room John Saunders 1. Tabular list. Geneva, World Health Organization, 1992. [Versão em língua portuguesa: Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10a. Revisão. (CID-10). Vol. 1. São Paulo, Editora da USP, 2000.] 2 International Classification of diseases and related health problems. Tenth revision. Vol. 3 International nonproprietary names (INN) for pharmaceutical substances. No. 8. Geneva,World Health Organization, 1992. 11 Agradecimentos Normal Sartorius, Diretor da Divisão de Saúde Mental da Organização Mundial (OMS) da Saúde por ocasião da preparação deste glossário, contribuiu com sugestões gerais e apoiou sua reali- zação. As fases iniciais foram coordenadas por Marcus Grant, então membro do Programa de Abuso de Substâncias da OMS, e, poste- riormente, pelo Dr. Aleksander Janca, da Divisão de Saúde Mental da OMS. Leland Towle, no Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos Estados Unidos da América (EUA) e Jack Blaine, do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA contribuíram como consultores do projeto. O trabalho foi financiado pelo Projeto Conjunto da OMS/Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (antigo ADAMHA) sobre Diagnóstico e Classificação de Transtornos Mentais e Problemas relacionados ao Álcool e às Drogas. 12 abstinência A abstenção do uso de droga ou (particularmente) de bebidas alcoólicas, por questão de princípio ou por outras razões. Quem pratica a abstinência de álcool é chamado de “abstêmio” ou “abstêmio total”. A expressão “atualmente abstinente”, freqüen- temente empregada em inquéritos populacionais, geralmente define uma pessoa que não ingeriu bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses; esta definição não coincide necessariamente com a descrição que o próprio indivíduo faz de si como um abstêmio. O termo “abstinência” não deve ser confundido com “síndrome de abstinência”.4 Veja também: sobriedade; temperança. abstinência condicionada Uma síndrome com sinais e sintomas semelhantes à abstinência, ocasionalmente vivenciada por indivíduos dependentes de álcool ou opiáceos em abstinência, que são expostos a estímulos previamente associados com o uso de álcool ou outras drogas. De acordo com a teoria clássica do condicionamento, estímulos ambientais não condi- cionados, temporariamente associados a reações não condicionadas de abstinência tornam-se estímulos condicionados capazes de eliciar os mesmos sintomas de abstinência. Em outra versão da teoria do condicionamento, uma resposta inata compensatória aos efeitos de uma substância (tolerância aguda) torna-se condicionalmente relacio- nada aos estímulos associados ao uso da substância. Se os estímulos são apresentados sem a administração concreta da substância, a resposta condicionada é eliciada como uma reação compensatória do tipo da abstinência. 4 Deve-se, no entanto, diferenciar “abstêmio” (pessoa que não bebe ou não usa drogas) de “abstinente” (pessoa que presentemente não está bebendo, que não está usando drogas). 15 abuso de substância Veja abuso (de droga, de álcool, de substâncias, de produtos químicos ou de substâncias psicoativas). abuso de substâncias que não produzem dependência (F55) Definido na CID-10 como o uso repetido e inadequado de uma substância que, embora isenta de potencial de dependência, se acompanha de efeitos físicos ou psicológicos nocivos ou envolve um contato desnecessário com profissionais da saúde (ou ambos). Esta categoria poderia ser mais apropriadamente chamada de “uso inde- vido de substâncias não psicoativas” (compare com uso indevido de álcool ou droga). Na CID-10, este diagnóstico está incluído na secção “Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas e fatores físicos” (F50-F59). Uma ampla variedade de medicamentos à venda sob pres- crição médica ou de venda livre e de remédios populares e fitoterá- picos pode estar envolvida. Os grupos particularmente importantes são: • drogas psicotrópicas que não produzem dependência, tais como os antidepressivos e os neurolépticos ; • laxativos (o uso inadequado dos mesmos é chamado de “hábito laxativo”); • analgésicos que podem ser comprados sem prescrição médica, tais como aspirina (ácido acetilsalicílico) e para- cetamol (acetaminofeno); • esteróides e outros hormônios; • vitaminas; e • antiácidos. Embora estas substâncias não produzam, tipicamente, efeitos 16 psíquicos agradáveis, as tentativas de desencorajar ou proibir o seu uso freqüentemente encontram resistência. A despeito da forte moti- vação do paciente para tomar a substância, não há o desenvolvimento de síndrome de dependência nem de síndrome de abstinência. Estas substâncias não têm potencial de dependência no sentido de efeitos farmacológicos intrínsecos, mas são capazes de induzir depen- dência psicológica. abuso de vitaminas Veja abuso de substâncias que não produzem dependência. acetaldeído O principal metabólito do etanol. O acetaldeído é formado pela oxidação do etanol, reação que é catalisada principalmente pela enzima álcool-desidrogenase. Ele é transformado (oxidado) em acetato pela enzima aldeído-desidrogenase. O acetaldeído é uma substância tóxica, envolvida na reação de rubor pelo álcool e em certas seqüelas físicas do consumo de álcool. Veja também: droga sensibilizadora ao álcool; dissulfiram. adicção a droga ou a álcool O uso repetido de uma ou mais substâncias psicoativas, a tal ponto que o usuário (designado como um adicto) fica periódica ou permanentemente intoxicado, apresenta uma compulsão para consumir a substância preferida (ou as substâncias preferidas), tem grande dificuldade para interromper ou modificar voluntariamente o uso da substância e demonstra uma determinação de obter substân- cias psicoativas por quaisquer meios. Numa situação típica, a tolerância é proeminente e quando o uso da substância é interrompido freqüentemente ocorre uma síndrome de 17 abstinência. A vida de um adicto pode ser dominada pela substância a ponto de uma virtual exclusão de todas as demais atividades e respon- sabilidades. O termo adicção também tem a conotação de que o uso de tal substância tem um efeito negativo para a sociedade, além de para o indivíduo; quando aplicado ao uso do álcool, é equivalente a alcoolismo. Adicção é um termo antigo e de uso variado. É considerado por muitos como uma entidade nosológica específica, um transtorno debilitante baseado nos efeitos farmacológicos da droga, implaca- velmente progressivos. De 1920 a 1960 houve tentativas para se diferenciar adicção de “hábito”, uma forma menos grave de adap- tação psicológica. Nos anos 1960 a Organização Mundial da Saúde recomendou que ambos termos fossem abandonados em favor de dependência, que pode existir em vários graus de gravidade.5 agente ametílico Uma substância ingerida com o objetivo de reverter ou mitigar os efeitos intoxicantes do álcool. Tais compostos podem atuar seja pela inibição dos efeitos do álcool sobre o sistema nervoso central seja pela aceleração do metabolismo do álcool no fígado. Não se encontram atualmente drogas eficazes deste grupo disponíveis para fins terapêu- ticos. 5 Este termo, em geral traduzido do inglês (addiction) ou do espanhol (adicción) é derivado do latim addictionem, que significa “propensão a, predisposição, inclinação em direção de algo”, e não deve ser confundido com “adição” (soma, acréscimo). Por sua origem, possui uma conotação etiológica de determinismo biológico: os adictos são pessoas com uma predispo- sição natural ao consumo arriscado ou perigoso de álcool ou de outras drogas. Essas pessoas possuiriam uma compulsão inata para ingerir ou tomar a(s) substância(s) preferida(s), e uma grande determinação para obter a substância de qualquer maneira. Nesse sentido foi popularizado por defensores das teorias da degenerescência moral como terreno de base das dependências (de maneira semelhante à prostituição – predispo- sição ao pecado, e às chamas do inferno – flammis acribus addictis, segundo o texto da missa de requiem). As pesquisas mais recentes não conseguiram documentar essa suposta predis- posição, antes da exposição à substância. Apesar de não ser um termo diagnóstico na CID-10, continua a ser amplamente utilizado por profissionais e principalmente pelo público em geral, mas seu uso é desaconselhado, mesmo na língua inglesa. 20 álcool de madeira Metanol. Veja álcool. alcoólico Veja alcoolista. Alcoólicos Anônimos (AA) Veja grupos de ajuda mútua; grupo dos doze passos álcool impróprio para o consumo Um termo genérico para produtos contendo etanol não destinado à ingestão humana. Muitos produtos industriais e comerciais (como purificadores do hálito, álcool desnaturado e álcool para desinfecção e limpeza) contêm etanol e por vezes são consumidos como substitutos de bebidas alcoólicas (veja álcool). Uma expressão mais abrangente para os produtos consumidos em vez de bebidas alcoólicas é “substituto do álcool”, a qual inclui também produtos não etílicos, como o etilenoglicol (anticongelante). alcoolismo (F10.2) Um termo antigo e de significado variável, em geral refere-se a um padrão crônico e continuado de ingestão de álcool, ou mesmo peri- ódico, e que é caracterizado pelo comprometimento do controle sobre a ingestão, freqüentes episódios de intoxicação e preocupação com o álcool e seu uso, apesar das conseqüências adversas. O termo alcoolismo foi originalmente cunhado em 1849 por Magnus Huss. Até os anos 1940, referia-se principalmente às conse- qüências físicas do beber pesado, de longa duração (alcoolismo Beta 21 na tipologia de Jellinek). Um conceito mais restrito é o de alcoolismo como uma doença (veja doença alcoólica), caracterizado pela perda do controle sobre o beber, causado por uma anormalidade biológica pré-existente e que tem um curso progressivo previsível. Posterior- mente, o termo foi usado por Jellinek e outros para indicar o consumo de álcool que leva a qualquer tipo de dano (físico, psicológico ou social, tanto para o indivíduo como para a sociedade). Jellinek subdividiu o alcoolismo assim definido em uma série de “tipos” designados por letras gregas (veja tipologia de Jellinek). A inexatidão do termo levou uma Comissão de Peritos da OMS, em 1979, a desaprová-lo, preferindo estreitar a formulação para síndrome de dependência do álcool como um dos muitos problemas relacionados com o álcool. O alcoolismo não está incluído como uma entidade diagnóstica na CID 10 (veja síndrome de dependência). Apesar de seu significado ambíguo, alcoolismo é ainda ampla- mente usado como termo diagnóstico e descritivo. Em 1990, por exemplo, a Sociedade Norte-americana de Adicções definiu o alco- olismo como “uma doença crônica primária que tem seu desenvol- vimento e suas manifestações influenciados por fatores genéticos, psicossociais e ambientais. A doença freqüentemente é progressiva e fatal. É caracterizada por uma perturbação contínua ou periódica do controle sobre a ingestão, uma preocupação com o álcool, o seu uso apesar das conseqüências adversas e distorções de pensamento, notadamente, negação”. Outras formulações têm dividido o alcoolismo em diversos tipos: algumas o consideram como doença e outras, não (veja tipologia de Jellinek). Distingue-se: o alcoolismo essencial do alcoolismo reativo, sendo que “essencial” tem o objetivo de indicar que o alcoolismo não é secundário nem provocado por nenhuma outra condição; alcoolismo primário de secundário, para indicar a ordem de início, em casos de duplo diagnóstico; e o tipo I do tipo II, tendo este último um componente genético fortemente ligado ao sexo masculino. Antigamente, a dipsomania (ingestão episódica) e a adicção ao álcool referiam-se à perda do controle sobre a ingestão de bebidas; 22 embriaguez tinha também uma relação mais estreita com a intoxi- cação habitual e seus efeitos prejudiciais. alcoolista Um indivíduo que sofre de alcoolismo. Note que este substan- tivo tem um significado diferente daquele do adjetivo, como em bebida alcoólica. Sinonímia: alcoólatra ; alcoólico. alcoolização (Em francês: alcoholisation) A ingestão freqüente de quantias substanciais de bebidas alcoólicas de forma a manter um elevado teor de álcool no sangue. “Alcoolização” também designa o processo de aumentar a freqüência do consumo de álcool. O termo pode ser apli- cado ao tanto bebedor individual como à sociedade como um todo. O termo “alcoolização” foi originalmente usado no contexto dos padrões de ingestão franceses e implica um beber normativo nas condições sócio-culturais, mais que o reflexo de uma psicopatologia individual. Sinonímia: ingestão inveterada. Veja também: tipologia de Jellinek (alcoolismo delta). alcoologia Ramo do conhecimento científico relacionado ao álcool. Atual- mente esse termo não é de uso corrente em inglês. alucinógeno Uma substância que induz alterações da senso-percepção, do pensamento e dos sentimentos parecidos aos das psicoses funcionais, 25 após a recuperação da consciência. A amnésia retrógada é a perda da memória de duração variável para eventos e vivências que prece- deram um incidente causal. amnésia aguda Veja apagamento; embriaguez patológica. amotivacional Veja síndrome nolitiva. analgésico Uma substância que reduz a dor e pode ou não ter propriedades psicoativas. Veja também: opióides. anfetamina Uma classe das aminas simpatomiméticas com poderosa ação estimulante do sistema nervoso central. Esta classe inclui a anfeta- mina, a dexanfetamina e a metanfetamina. Outras drogas farmaco- logicamente relacionadas incluem o metilfenidato, a fenmetrazina e a anfepramona (dietilpropiona). Em linguagem de rua, as anfetaminas são freqüentemente referidas como “bolinhas” (Br.). Os sinais e sintomas sugestivos de intoxicação por anfetaminas ou outros simpatomiméticos de ação semelhante incluem taquicardia, dilatação pupilar, aumento da pressão arterial, hiperreflexia, sudorese, calafrios, anorexia, náusea ou vômito, e comportamentos anormais, tais como agressividade, grandiosidade, hipervigilância, agitação e perturbação do juízo crítico. Em raros casos pode-se desenvolver um 26 delirium a menos de 24 horas da ingestão. O uso crônico em geral induz alterações da personalidade e do comportamento tais como impulsividade, agressividade, irritabilidade, desconfiança e psicose paranóide (veja psicose anfetamínica). A interrupção da ingestão após uso prolongado ou intenso pode produzir uma reação de absti- nência, com humor deprimido, fadiga, hiperfagia, transtornos do sono e aumento dos sonhos. Atualmente, a prescrição de anfetaminas e de substâncias similares está limitada principalmente ao tratamento da narcolepsia e do transtorno de hiperatividade por déficit de atenção. Não é reco- mendado o uso dessas substâncias como agentes anorexígenos no tratamento da obesidade. Veja também: estimulantes; transtorno psicótico induzido por álcool ou droga. anorexígeno Veja supressor do apetite. ansiolíticos Drogas contra a ansiedade. Veja sedativos/hipnóticos. antagonista Uma substância que neutraliza os efeitos de outra. Do ponto de vista farmacológico, um antagonista interage com um receptor para inibir a ação de agentes (agonistas) que produzem efeitos específicos, fisiológicos ou comportamentais, mediados por aquele receptor. 27 antidepressivos Um grupo de substâncias psicoativas prescritas para o trata- mento dos transtornos depressivos; também são usados em outras condições, tais como o transtorno do pânico. Há três classes princi- pais: os antidepressivos tricíclicos (quer são principalmente inibidores da recaptura de noradrenalina); os agonistas de receptores e bloque- adores da recaptura da serotonina; e os inibidores da monoamino- oxidase, menos comumente prescritos. Os antidepressivos tricíclicos têm um risco de abuso relativamente baixo, mas algumas vezes são usados sem finalidade terapêutica por seus efeitos psíquicos imediatos. Desenvolve-se tolerância aos seus efeitos anticolinérgicos, mas não está esclarecido se ocorre uma síndrome de dependência ou uma síndrome de abstinência. Por estas razões, o uso impróprio de antidepressivos está incluído na categoria F55 da CID-10, abuso de substâncias que não produzem dependência. anti-histamínicos Um grupo de drogas terapêuticas usadas no tratamento de transtornos alérgicos e, por vezes, devido aos seus efeitos sedativos, para aliviar a ansiedade e induzir o sono. Farmacologicamente, os anti- histamínicos são classificados como bloqueadores dos receptores H1. Estas drogas são ocasionalmente utilizadas sem finalidade terapêutica, particularmente por adolescentes, nos quais pode causar sedação e desinibição. Um grau moderado de tolerância se desenvolve, mas não uma síndrome de dependência ou uma síndrome de abstinência. Uma segunda classe de anti-histamínicos, os bloqueadores de recep- tores H2, suprime a secreção ácida gástrica e é usada no tratamento da úlcera péptica e do refluxo esofágico; esta não tem um potencial de dependência conhecido e o seu uso indevido é incluído na categoria F55 da CID-10, abuso de substâncias que não produzem depen- dência. Veja também: doping. 30 B de sarjeta, alcoólatra vagabundo, alcoólatra indigente, transgressor crônico por embriaguez, transgressor por intoxicação em via pública. O termo é originário de sociedades que desaprovam o consumo de bebidas alcoólicas em exteriores; em francês utiliza-se o termo clochard. beber Ingestão de bebida; especificamente, neste contexto, uso de bebida alcoólica. beber arriscado Veja uso arriscado. beber controlado O beber que é moderado, para evitar intoxicação ou uso arris- cado. O termo é aplicado especialmente quando há uma razão para se questionar a capacidade de beber controladamente todo o tempo, como nos casos de indivíduos que tiveram anteriormente sinais de dependência de álcool ou de uso prejudicial. Quando aplicado ao uso de outra substância psicoativa, o termo análogo “uso controlado de drogas” se refere tanto à manutenção do uso regular, não compulsivo, de uma substância, que não interfere com o funcionamento habitual como a formas de uso que minimizam os efeitos adversos da droga. Compare com controle prejudicado. Veja também: beber moderado. beber excessivo Um termo, não recomendado atualmente, para se referir a um 31 B padrão de beber considerado como excedendo as normas de um beber moderado ou aceitável. Beber prejudicial é um termo equiva- lente em uso atualmente. A CID-8 distinguiu dois tipos de beber exces- sivo: episódico e habitual, sendo o beber excessivo aparentemente equivalente a intoxicação. O beber excessivo episódico inclui ataques relativamente breves de consumo excessivo de álcool ocorrendo pelo menos algumas vezes por ano. Esses ataques podem durar alguns dias ou semanas. O beber excessivo habitual inclui o consumo regular de grandes quantidades de álcool que podem ser prejudiciais para a saúde do indivíduo ou para seu funcionamento social. Veja também: beber pesado; uso nocivo. beber intenso (em inglês: heavy drinking) Padrão de beber que excede as normas do beber moderado ou – mais imprecisamente – do beber social. O beber intenso é freqüen- temente definido em termos de exceder certo volume diário (por exemplo, 3 doses por dia) ou determinadas quantidades por vez (por exemplo, 5 doses por ocasião, pelo menos uma vez por semana). Veja também: beber excessivo; dose padrão. beber moderado Um termo impreciso para um padrão de beber que implicita- mente se contrapõe ao beber intenso. Significa beber quantidades moderadas e que não causam problemas. Algumas vezes, o beber moderado é diferenciado do beber leve. Veja também: beber controlado; beber excessivo; beber intenso; beber social. 32 B beber para esquecer Beber motivado por um desejo ou necessidade de escapar de uma situação ou estado de humor desagradável. Termos semelhantes são: uso de álcool por motivos pessoais (em oposição a motivos sociais); uso de álcool para suportar a situação; beber para “afogar as mágoas”. beber pesado Veja beber intenso. beber prejudicial Veja uso prejudicial. beber problemático (em inglês: problem drinking) Ato de beber que causa problemas, individuais ou coletivos, de saúde ou sociais. Antigamente incluía o beber em resposta a problemas da vida. O termo tem sido usado desde meados de 1960 num sentido mais geral, que evita um compromisso ou uma associação com o conceito de doença alcoólica. Algumas vezes, o beber problemático é associado ao conceito de alcoolismo, como um estágio precoce ou menos grave. Um bebedor problemático é uma pessoa cuja forma de beber resultou em problemas de saúde ou sociais. Algumas formulações que evitam o rótulo inerente ao termo incluem “problemas relacionados à bebida” e “problemas com a bebida” (veja problemas relacionados com o álcool). A expressão “beber problemático” tem sido usada por alguns para designar o conceito relacionado do ato de beber que tem o potencial para causar problemas (grosseiramente equivalente a uso perigoso de álcool), enquanto “problema da bebida” é um termo que data da era da tempe- 35 B primordialmente como sedativos/hipnóticos, relaxantes muscu- lares e antiepilépticos, e outrora denominados de “tranqüilizantes menores”. Acredita-se que estes agentes produzam efeitos terapêu- ticos ao potencializar a ação do ácido gama-aminobutírico (GABA), um importante neurotransmissor inibidor. Os benzodiazepínicos foram introduzidos para substituir os barbitúricos, como uma alternativa mais segura. Eles não suprimem o sono REM na mesma medida que os barbitúricos, mas tem um potencial significativo para induzir dependência e uso indevido. Os benzodiazepínicos de ação curta incluem o halazepam e o triazolam, ambos com início de ação rápida; o alprazolam, o flunitra- zepam, o nitrazepam, o lorazepam e o temazepam com início inter- mediário; e o oxazepam com início lento. Têm-se relatado amnésia anterógrada profunda (apagamento) e reações paranóides com o uso de triazolam, bem como insônia de rebote e ansiedade. Muito clínico tem encontrado problemas particularmente difíceis na interrupção do tratamento com o alprazolam. Os benzodiazepínicos de ação longa incluem o diazepam (com o mais rápido início de ação), o clorazepato (também de início rápido), o clordiazepóxido (início intermediário), o flurazepam (início lento) e o prazepam (início mais lento). Os benzodiazepínicos de ação longa podem produzir um efeito incapacitante cumulativo e tem maior proba- bilidade de causar sedação diurna e perturbações motoras que os agentes de ação curta. Mesmo em doses terapêuticas, a interrupção abrupta dos benzodiazepínicos induz uma síndrome de abstinência em até 50% das pessoas tratadas por seis meses ou mais. Os sintomas são mais intensos com as preparações de ação curta; com os benzodiazepí- nicos de ação longa os sintomas de abstinência aparecem uma ou duas semanas depois da interrupção e duram mais, mas são menos intensos. Como com outros sedativos, é necessário um programa de desintoxicação lenta para evitar complicações graves como as convulsões da abstinência. 36 B Alguns benzodiazepínicos têm sido usados em combinação com outras substâncias psicoativas para acentuar a euforia, por exemplo, ex., 40-80 mg. de diazepam tomados logo antes ou imediatamente após uma dose de manutenção diária de metadona. Os benzodiazepí- nicos são, com freqüência, usados de indevidamente em combinação com o álcool ou na dependência de opióides (veja uso de múltiplas drogas). A superdose fatal é rara com qualquer benzodiazepínico, a menos que ele seja ingerido concomitantemente ao álcool ou outro depressor do sistema nervoso central. blecaute Veja apagamento. buspirona Um ansiolítico não-benzodiazepínico. Considera-se atualmente que tem um potencial de dependência desprezível. Veja também: sedativo/hipnótico 37 cafeína Uma xantina, que é um estimulante leve do sistema nervoso central, um vasodilatador e um diurético. A cafeína é encontrada no café, chá chocolate, guaraná, coca cola e outros refrigerantes, em alguns casos juntamente com outras xantinas tais como a teofilina ou a teobromina. Denomina-se cafeinismo o uso excessivo crônico ou agudo (por exemplo, o consumo diário de 500 mg ou mais) com uma conseqüente toxicidade. Os sintomas incluem inquietação, insônia, rubor facial, contrações musculares, taquicardia, perturbações gastrintestinais incluindo dores abdominais, tensão, pensamento e fala acelerados e desorganizados e, algumas vezes, exacerbação de uma ansiedade pré-existente ou estados de pânico, depressão ou esquizo- frenia. Os transtornos por uso de substâncias da CID-10 incluem os transtornos causados pelo uso e a dependência de cafeína (classifi- cadas em F15). cálculo de Widmark Veja teor alcoólico no sangue. cânabis Um termo genérico usado para denotar os vários preparados da planta de maconha (cânhamo), Cannabis sativa. Isso inclui a folha de maconha ou diamba (com variada sinonímia de gíria), o cânhamo-da- índia ou haxixe (derivado da resina dos extremos floridos da planta) e o óleo de haxixe. Na Convenção Única de Narcóticos e Drogas de 1961, a maconha foi definida como “as extremidades floridas ou frutificadas da planta de cannabis (excluindo as sementes e as folhas sem aquelas extremidades) das quais a resina não foi extraída”, enquanto que a resina da cânabis é “a resina bruta ou purificada, extraída da planta da cannabis”. As definições são baseadas na terminologia tradicional 40 cheirar cola Veja substâncias voláteis. cirrose alcoólica (K70.3) Uma forma grave de hepatopatia alcoólica caracterizada por necrose e deformação permanente da arquitetura do fígado devido à formação de tecido fibroso e de nódulos regenerativos. Esta é uma definição estritamente histológica; o diagnóstico, porém, com freqü- ência, é clínico. A cirrose alcoólica acontece principalmente na faixa etária de 40 a 60 anos, depois de no mínimo 10 anos de uso arriscado de álcool. Os indivíduos apresentam sintomas e sinais de descompensação hepática tais como ascite, edema de tornozelos, icterícia, hema- tomas, hemorragia gastrintestinal procedentes de varizes esofágicas e confusão ou estupor devido à encefalopatia hepática. Por ocasião do diagnóstico, em torno de 30% dos pacientes estão “compensados” e relatam queixas inespecíficas tais como dor abdominal, perturbações intestinais, perda de peso e de massa muscular e fraqueza. O câncer de fígado é uma complicação tardia da cirrose em aproximadamente 15% dos casos. A cirrose alcoólica é algumas vezes designada de “cirrose portal” ou “cirrose de Laennec”, embora nenhum destes termos implique necessariamente uma causa alcoólica. Em certos países não tropicais nos quais o consumo de álcool é substancial, o uso do álcool é a principal causa da cirrose. Devido à deficiência de registros de consumo de álcool, a soma global de mortalidade por cirrose – mais que “cirrose com menção de alco- olismo” – é freqüentemente usada como indicador de problemas ligados ao álcool. Veja também: fórmula de Jellinek. 41 ciúme alcoólico (F10.5) Um tipo de transtorno psicótico crônico provocado pelo álcool, caracterizado por delírios de que o parceiro conjugal ou sexual é infiel. O delírio é caracteristicamente acompanhado de uma procura intensa da evidência da infidelidade e acusações diretas que podem levar a discussões violentas. Inicialmente foi visto como uma entidade diag- nóstica específica, mas agora esta consideração é controvertida. Sinonímia: paranóia amorosa; paranóia conjugal. co-alcoolista Veja co-dependente. cocaína Um alcalóide obtido das folhas de coca (Erythroxylon coca) ou sintetizado a partir da ecgonina ou de seus derivados. O hidrocloreto de cocaína era comumente usado como anestésico local em odonto- logia, oftalmologia e cirurgias de ouvido, nariz e garganta, dada a sua forte ação vasoconstritora que ajuda a reduzir as hemorragias locais. A cocaína é um poderoso estimulante do sistema nervoso central, usado sem indicação terapêutica para produzir euforia ou “ligação”; o uso repetido produz dependência. A cocaína ou “coca” é geralmente vendida como cristais brancos e translúcidos, ou em pó (“farinha” ou “pó”), freqüentemente adulterada com açúcares ou anestésicos locais. O pó é aspirado (“cheirado” ou “cafungado”) e produz efeitos imediatos (entre 1 a 3 minutos de latência) que duram em torno de 30 minutos. A cocaína pode ser ingerida oralmente, geralmente com álcool; os usuários de opióides e cocaína combinados geralmente os injetam por via intravenosa. Alguns elementos alcalinos (freebase) são utilizados para aumentar a potência da cocaína pela extração do alcalóide puro 42 através da inalação dos vapores em cigarros ou narguilé (cachimbo de água). Uma solução aquosa de sal de cocaína é misturada com um álcali (como bicarbonato de sódio) e o extrato é obtido através de um solvente orgânico como o éter ou o hexano. O procedimento é peri- goso uma vez que a mistura é explosiva e altamente inflamável. Um procedimento mais simplificado que evita o uso de solventes orgânicos consiste em aquecer o sal de cocaína com bicarbonato de sódio; isto produz o crack. O crack ou “pedra” é uma cocaína alcaloidal (básica), um composto amorfo que pode conter cristais de cloreto de sódio. É um composto de coloração bege. Crack refere-se ao som de estalido provo- cado quando o composto é aquecido. Um efeito intenso ocorre de 4 a 6 segundos após a inalação do crack. Um sentimento de exaltação e de desaparecimento de ansiedade é vivenciado, junto com um exagerado sentimento de confiança e auto-estima. Há também uma perturbação do juízo crítico e o usuário tende a cometer atos irresponsáveis, ilegais ou perigosos, sem se preocupar com as conseqüências. A fala fica acelerada e pode se tornar desconexa e incoerente. Os efeitos agradáveis terminam em torno de 5 a 7 minutos, depois do que o humor rapidamente muda para depressão e o consumidor é compelido a repetir o processo de forma a recuperar a euforia do ápice. A superdose parece ser mais freqüente com o crack que com outras formas de cocaína. A interrupção do uso contínuo de cocaína é geralmente seguida por uma crise que pode ser vista como uma síndrome de abstinência, na qual a exaltação dá lugar à apreensão, depressão profunda, sono- lência e inércia. Podem ocorrer reações tóxicas agudas tanto no consumidor de cocaína principiante quanto no inveterado. Essas reações incluem delirium semelhante ao pânico, hiperpirexia, hipertensão (algumas vezes com hemorragia subdural ou subaracnóide), arritmias cardí- 45 de realidade” (através da confrontação do problema relacionado ao uso de droga do indivíduo) e de apoio dos funcionários e de co-residentes para a recuperação. Elas têm geralmente uma linha muito similar à dos grupos de ajuda mútua tais como Narcóticos Anônimos. Veja também: pensão protegida. congêneres A rigor, este termo aplica-se aos alcoóis (que não o etanol), alde- ídos e ésteres que são encontrados nas bebidas alcóolicas e contri- buem para o gosto e aroma especiais dessas bebidas. Entretanto o termo é também usado informalmente para referir-se a qualquer cons- tituinte de uma bebida alcoólica que proporcione aroma, paladar, cor e outras características tais como “corpo” para tal bebida. Os taninos e os corantes estão entre os compostos assim denominados. consumo compulsivo periódico de bebida (em inglês: binge drinking) Um padrão de ingestão intensa durante um período prolongado, escolhido de maneira propositada. Em inquéritos populacionais, o período usualmente é definido como mais que um dia em cada ocasião. As expressões “porre” e “pileque” são também utilizadas para descrever esta atividade. Os bebedores deste padrão em geral inter- calam esses períodos com períodos de abstinência. Sinonímia: ataque de bebedeira, porre, pileque. Veja também: tipologia de Jellinek (alcoolismo épsilon). controle de drogas A regulamentação, por um sistema de leis e organismos, da produção, da distribuição, da venda e do uso de drogas psicoativas 46 (substâncias controladas) a nível local, nacional ou internacional (veja convenções internacionais sobre drogas). Expressão também usada como equivalente de políticas de drogas (Compare com polí- tica do álcool). controle do álcool Mais comumente, a regulamentação que restringe ou controla a produção e venda de bebidas alcoólicas, geralmente administradas por organismos governamentais específicos. Em algumas discussões acadêmicas, a totalidade da intervenção governamental no mercado de bebidas alcoólicas, independentemente de seu objetivo. Na terminologia utilizada em saúde pública com relação a fatores de risco, pode designar as políticas de prevenção e tratamento rela- cionadas ao álcool em geral (embora política do álcool seja menos ambígua, neste contexto). controle prejudicado A capacidade diminuída de um indivíduo para controlar o uso de uma substância psicoativa em relação ao início, nível ou término de seu consumo. “Capacidade prejudicada de controle” é um critério para a síndrome de dependência na CID-10. O controle prejudicado é distinto da perda do controle pelo fato do último implicar que o fenômeno prevalece em todos os momentos e em todas as circuns- tâncias.8 8 Em termos gerais, controle de impulsos designa a capacidade de um indivíduo para resistir a desejos, impulsos ou pressões internas dirigidos a comportamentos autogratificantes sem avaliar as conseqüências. Uma expressão equivalente a controle prejudicado é controle deficiente. 47 convenções internacionais sobre drogas Tratados internacionais relacionados ao controle da produção e distribuição de drogas psicoativas. Os tratados iniciais (General Brussels Act, 1889-90, e a Convenção de St. Germain-en-Laye, de 1912) controlavam, na era colonial, o tráfico de bebidas destiladas na África. O primeiro tratado relacionado com as substâncias contro- ladas atualmente foi a Convenção de Haia, de 1912; suas determina- ções e sucessivos acordos foram consolidados na Convenção Única de Drogas Narcóticas (1961, emendada por um Protocolo de 1972). A essa, foi adicionada a Convenção de Substâncias Psicotrópicas, de 1971 e a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Drogas Narcóticas e Substâncias Psicotrópicas, de 1988. convulsão relacionada a álcool ou drogas Evento do tipo convulsivo que ocorre durante a abstinência ou a intoxicação por álcool ou outras drogas. É caracterizada por perda de consciência e rigidez muscular (acompanhada por parada respiratória temporária), seguida por movimentos sem finalidade dos membros e tronco. O termo é também usado algumas vezes para incluir convul- sões resultantes de danos cerebrais induzidos pelo álcool ou drogas. As convulsões devidas à epilepsia idiopática ou aos danos cerebrais orgânicos conseqüentes a traumas ou a infecções em indivíduos com uso de substâncias psicoativas são excluídos desta definição. Sinonímia: ataques relacionados ao álcool ou drogas. crack Veja cocaína. 50 motor, das emoções e do ciclo sono-vigília. A duração é variável, de poucas horas a poucas semanas e a gravidade varia de leve até muito grave. A síndrome de abstinência induzida pela retirada do álcool com delirium é conhecida como delirium tremens. delirium tremens (F10.4) Síndrome de abstinência com delirium; um estado psicótico agudo que ocorre em indivíduos dependentes de álcool, durante a fase de abstinência, e caracterizado por confusão, desorientação, ideação paranóide, delírios, ilusões, alucinações (tipicamente visuais ou táteis, menos comumente auditivas, olfatórias ou vestibulares), inquietação, distraibilidade, tremores (algumas vezes grosseiros), sudorese, taqui- cardia e hipertensão. É usualmente precedida por sinais de síndrome de abstinência simples. O início do delirium tremens ocorre usualmente 48 hs ou mais após a suspensão ou a redução do consumo de álcool, mas pode apre- sentar-se até 1 semana após este período. Deve ser distinguido da alucinose alcoólica, que nem sempre é um fenômeno da abstinência. A condição é conhecida coloquialmente como “DT”. demência alcoólica (F10.7) Um termo de uso variado; mais comumente designa um transtorno crônico ou progressivo resultante de um beber arriscado, caracterizado pelo comprometimento das múltiplas funções corticais superiores, incluindo memória, raciocínio, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e juízo crítico. A consciência não se turva. As perturbações cognitivas são usualmente acompanhadas de deterioração do controle emocional, do compor- tamento social ou da motivação. A existência da demência alcoólica como uma síndrome específica é posta em dúvida por alguns que atri- buem a demência a outras causas. 51 dependência (F1x.2) Em termos gerais, o estado de necessidade ou dependência de alguma coisa ou alguém para apoio, funcionamento ou sobrevivência. Quando aplicado ao álcool e outras drogas, o termo implica a neces- sidade de repetidas doses da droga para sentir-se bem ou para evitar sensações ruins. No DSM-IIIR, a dependência é definida como “um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e psicológicos que indicam que uma pessoa tem o controle do uso da substância psico- ativa prejudicado e persiste nesse uso a despeito de conseqüências adversas”. Equivale aproximadamente à síndrome de dependência da CID-10. No contexto da CID-10, o termo dependência refere-se de maneira geral a qualquer dos elementos da síndrome. O termo é freqüentemente usado como equivalente de adicção e de alcoo- lismo. Em 1964 uma Comissão de Peritos da OMS introduziu “depen- dência” em substituição a adicção e hábito10. O termo pode ser usado de maneira genérica em relação a todas as drogas psicoativas (depen- dência de drogas, dependência química, dependência do uso de subs- tância), ou referir-se especificamente a uma droga em particular ou a uma classe de drogas (p.ex., dependência de álcool, dependência de opióide). Embora a CID-10 descreva dependência em termos aplicá- veis a todas as classes de drogas, há diferenças entre os sintomas de dependência característicos das diferentes drogas. De forma não qualificada, dependência refere-se a ambos os elementos físicos e psicológicos. A dependência psicológica ou psíquica refere-se à vivência de controle prejudicado sobre o beber ou o uso da droga (veja craving, compulsão), ao passo que a depen- dência fisiológica ou física refere-se à tolerância e aos sintomas de abstinência (veja também neuro-adaptação). Em discussões de orien- 10 WHO Expert Commitee on Addiction-Producing Drugs. Thirteenth report of the WHO Expert Committee. Geneva, World Health Organization, 1964 (WHO Technical Report Series, No.273). 52 tação biológica, dependência é freqüentemente usada com referência à dependência física apenas. Ainda no contexto psicofarmacológico, emprega-se também dependência ou dependência física num sentido mais limitado para referir-se exclusivamente ao desenvolvimento de sintomas de absti- nência que seguem uma interrupção do uso de droga. Neste sentido restrito, a dependência cruzada é vista como complementar a tole- rância cruzada, e ambas definições referem-se somente à sintomato- logia física (neuroadaptação). dependência cruzada Um termo farmacológico usado para indicar a capacidade de uma substância (ou classe de substâncias) para suprimir as manifes- tações da síndrome de abstinência de outra substância ou classe e assim manter o estado de dependência física. Note que neste contexto dependência tem um sentido psicofarmacológico mais estrito, asso- ciado à supressão dos sintomas da síndrome de abstinência. Uma conseqüência do fenômeno da dependência cruzada é a maior probabilidade de desenvolvimento de dependência de uma substância se o indivíduo já estiver dependente de uma substância relacionada. Por exemplo, a dependência de um benzodiazepínico desenvolve-se mais rapidamente em indivíduos já dependentes de uma outra droga deste tipo ou de outras substâncias com efeitos seda- tivos, tais como álcool e barbitúricos. Veja também: desintoxicação; tolerância cruzada. dependência de álcool Veja dependência. 55 Tipicamente, o indivíduo está clinicamente intoxicado ou já em abstinência no início da desintoxicação. A desintoxicação pode ou não envolver o uso de medicamentos. Quando os usa, o medicamento em geral é uma droga que apresenta tolerância cruzada e dependência cruzada em relação à(s) substância(s) usada(s) pelo paciente. A dose é calculada para aliviar a síndrome de abstinência sem induzir intoxicação e é gradualmente diminuída à medida que o paciente se recupera. A desintoxicação como um procedimento clínico implica que o indivíduo seja supervisionado até recuperar-se completamente da into- xicação ou da síndrome de abstinência física. O termo “autodesintoxi- cação” é usado algumas vezes para denotar a recuperação não assis- tida de um episódio de intoxicação ou de sintomas da abstinência. diacetil-morfina, diamorfina Nome alternativo genérico para a heroína. Veja também: opióide diazepam Uma benzodiazepina comum. dipsomania Veja alcoolismo dirigir alcoolizado Um termo empregado para designar tipicamente a ação crimi- nosa de dirigir um veículo com teor alcoólico no sangue acima dos limites estabelecidos. Nos últimos anos, as leis contra dirigir alcoo- 56 lizado têm sido freqüentemente ampliadas e aplicadas também para “dirigir drogado” ou “dirigir intoxicado”, geralmente proibindo dirigir com qualquer traço de certas drogas específicas na corrente sanguínea.11 Sinonímia: dirigir embriagado; dirigir bêbado; dirigir intoxicado; dirigir sob a influência do álcool. dissulfiram O protótipo da droga sensibilizadora ao álcool prescrita para ajudar na manutenção da abstinência do álcool. O dissulfiram inibe a atividade da aldeído-desidrogenase e, na presença de álcool, causa um acúmulo de acetaldeído e uma reação aversiva de rubor facial, acompanhada por náuseas, tonturas e palpitações. Esses efeitos por vezes são denominados de “reação Antabus”. distribuição log-normal Expressão referente à teoria, proposta originalmente por Sully Ledermann, nos anos 1950, segundo a qual o consumo de álcool está distribuído entre os bebedores de uma população de acordo com uma curva log-normal que varia entre populações segundo um único parâ- metro, de forma que uma grande proporção do consumo de álcool se 11 A legislação em vigor no Brasil (LEI Nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Institui o Código de Trânsito Brasileiro). estabelece o limite legal para se dirigir em 0,06% (ou seja, 6 decigramas de etanol por litro de sangue). O artigo 165 da referida Lei estabelece: “Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Infração - gravíssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir; Medida administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. Parágrafo único. A embriaguez também poderá ser apurada na forma do art. 277.” Como parte da estratégia de redução de danos, existe uma tendência mundial no sentido de reduzir cada vez mais esse limite, que, em algumas jurisdições, já é zero, ou seja, um motorista é passível de sanções penais se dirigir com o mínimo vestígio detectável de álcool no sangue. 57 deve a uma pequena proporção de bebedores. Embora a formulação específica de Ledermann esteja hoje desacreditada, aceita-se com uma verdade geral que, nas sociedades nas quais o álcool é de livre acesso no mercado, os bebedores estão distribuídos ao longo de um espectro de níveis de consumo de álcool segundo uma curva unimodal desviada para a esquerda (referida como a distribuição unimodal do consumo, a qual também caracteriza o consumo de muitos outros produtos). A ênfase na distribuição do consumo na população tornou- se associada ao crescente interesse pelas medidas de controle do álcool como forma de redução dos níveis dos problemas associados ao álcool de uma dada população; por isso, esta perspectiva orientada para a saúde pública é, às vezes, designada como teoria da distri- buição do consumo. doença alcoólica A convicção de que o alcoolismo é uma condição de causa biológica primária e com história natural previsível, configura-a de acordo com as definições aceitas de uma doença. A perspectiva leiga dos Alcoólicos Anônimos (1939) – de que o alcoolismo, caracterizado pela perda de controle do indivíduo sobre o beber e, assim, sobre sua vida, era uma “doença” – foi introduzida na literatura acadêmica nos anos 1950 sob a forma do conceito do alcoolismo como doença. O conceito estava embasado nas concepções médicas e leigas do século XIX de embriaguez como uma doença. Em 1977, um Grupo de Pesqui- sadores da OMS, reagindo ao uso amplo e diversificado do termo alco- olismo, propôs substituí-lo na nosologia psiquiátrica por síndrome de dependência do álcool . Por analogia com dependência de drogas, a dependência de álcool tem encontrado aceitação geral nas atuais nosologias. doença alcoólica do músculo cardíaco Veja cardiopatia alcoólica. 60 (por exemplo: “álcool e outras drogas”) normalmente procuram indicar que a cafeína, o tabaco, o álcool e outras substâncias de uso habi- tual não médico sejam também enquadradas como drogas, na medida em que elas são consumidas, pelo menos em parte, por seus efeitos psicoativos. droga antiansiedade Veja sedativos/hipnóticos. droga anticonvulsivante Veja droga antiepiléptica. droga antiepiléptica Um grupo de substâncias terapêuticas prescritas para o trata- mento de transtornos epilépticos. Estas substâncias são normalmente prescritas para as convulsões decorrentes da abstinência do álcool, embora não exista uma sólida evidência de sua eficácia nem para a profilaxia primária nem secundária dessas convulsões. Sinonímia: droga anconvulsivante droga encaminhadora Uma droga ilícita ou lícita, cujo uso é considerado encaminhador ao uso de outra droga, geralmente tida como mais problemática. droga ilícita Uma substância psicoativa, cuja produção, venda ou uso são proibidos. Estritamente falando, não é a droga que é ilícita, mas sua 61 produção, venda ou uso em circunstâncias específicas em uma dada jurisdição (veja substâncias controladas). “Comércio de drogas ilícitas”, um termo mais exato, refere-se à produção, distribuição e venda de qualquer droga fora dos canais sancionados legalmente. droga lícita Uma droga que está legalmente disponível por receita médica em determinada jurisdição ou, por vezes, uma droga legalmente dispo- nível sem receita médica. Veja também: droga ilícita. droga projetada Uma substância química nova, com propriedades psicoativas, sintetizada especificamente para venda no mercado ilícito e para contornar as regulamentações sobre as substâncias controladas já conhecidas. Em resposta, essas regulamentações agora normalmente cobrem as novas substâncias psicoativas e os possíveis análogos das já existentes. O termo foi cunhado na década de 1980. droga psicoativa Veja substância ou droga psicoativa. droga sensibilizadora ao álcool Uma substância terapêutica prescrita para ajudar na manutenção da abstinência do álcool por meio da produção de efeitos colaterais desagradáveis, diante da ingestão do álcool. Os compostos comu- mente em uso inibem a aldeído desidrogenase, a enzima que catalisa a oxidação do acetaldeído. A conseqüente acumulação do acetaldeído causa uma síndrome caracterizada por rubor facial, náusea e vômitos, 62 palpitações e tontura. O dissulfiram (Antabus) e a carbamida de cálcio são exemplos de drogas sensibilizadoras ao álcool. duplo diagnóstico Um termo genérico que se refere à co-morbidade ou à concomi- tância no mesmo indivíduo de um transtorno por uso de substância psicoativa e outro transtorno psiquiátrico. Tal indivíduo é por vezes referido como um doente mental que abusa de substâncias químicas. Menos comumente, o termo se refere à co-ocorrência de dois trans- tornos psiquiátricos que não envolvem o uso de substâncias psico- ativas. O termo também tem sido aplicado à concomitância de dois transtornos por uso de substâncias (veja uso de múltiplas drogas). O uso deste termo não traz implicações sobre a natureza da associação entre as duas condições ou de qualquer relação etiológica entre elas. Sinonímia: co-morbidade 65 não for tratada imediatamente com tiamina, o paciente provavelmente morrerá ou evoluirá para uma síndrome amnésica. endorfina Veja opióide endógeno. envenenamento por álcool ou droga (T40, T51, X61, X62, X65, X66) Estado de grave alteração do nível de consciência, das funções vitais e do comportamento, que se segue à administração de uma dosagem excessiva (intencional ou acidental) de uma substância psicoativa. (Veja superdose; intoxicação). No campo da toxicologia, o termo envenenamento é utilizado de forma mais ampla para denotar um estado resultante da adminis- tração de quantidades excessivas de qualquer agente farmacológico, psicoativo ou não. escorbuto Uma síndrome de deficiência nutricional causada pela falta do ácido ascórbico (vitamina C) e caracterizada por sangramentos, fragi- lidade das gengivas, hemorragias intramusculares e intradérmicas e dores em músculos e articulações. Ocorre principalmente em indiví- duos subnutridos que ingerem poucas frutas ou vegetais verdes. Nos países desenvolvidos o escorbuto é visto principalmente em popula- ções de alcoolistas. esteróides Substâncias do grupo dos hormônios naturais ou sintéticos que são lipídeos complexos baseados na molécula de colesterol que afetam 66 os processos químicos do organismo, o crescimento e as funções fisio- lógicas, sexuais e outras mais. Compreendem os hormônios corticais, os testiculares e os ovarianos, e seus derivados. No contexto do uso de drogas e problemas relacionados a elas, os esteróides anabólicos são os que causam as maiores preocupa- ções. Estes compostos são relacionados aos hormônios sexuais masculinos; aumentam a massa muscular e causam masculinização das mulheres. Os esteróides anabólicos são utilizados inadequada- mente por atletas com o objetivo de aumentar a força e o desem- penho. O uso indevido de esteróides corticais é raro. Veja também: abuso de substâncias que não produzem depen- dência; doping. estimulante Com referência ao sistema nervoso central, qualquer agente que ative, acentue ou aumente a atividade neural; também chamado de psicoestimulante. Compreende as anfetaminas, a cocaína, a cafeína e outras xantinas, a nicotina, e os supressores do apetite sintéticos tais como a fenmetrazina e o metilfenidato. Outras drogas têm ações estimulantes, que, entretanto, não são seus efeitos primários mas que podem se manifestar em altas doses ou após o uso crônico; estas incluem os antidepressivos, os anticolinérgicos, e certos opióides. Os estimulantes podem dar origem a sintomas sugestivos de into- xicação, incluindo taquicardia, dilatação pupilar, aumento da pressão sanguínea, hiperreflexia, sudorese, calafrios, náusea e vômitos, e um comportamento anormal como beligerância, grandiosidade, hipervi- gilância, agitação e perturbação do juízo crítico. O uso crônico em geral leva a alterações de personalidade e do comportamento tais como impulsividade, agressividade, irritabilidade e desconfiança. Pode ocorrer uma psicose delirante plena. A interrupção da ingestão após períodos de consumo prolongado ou elevado pode produzir uma síndrome de abstinência, com humor deprimido, fadiga, alterações 67 do sono e aumento de sonhos. Na CID-10, os transtornos mentais e comportamentais decor- rentes do uso de estimulantes são subdivididos em: devidos ao uso de cocaína (F14) e devidos ao uso de outros estimulantes, inclusive a cafeína (F15), entre os quais destacam-se a psicose anfetamínica e a psicose devida à cocaína. Veja também: transtorno psicótico induzido por álcool ou droga. etanol Veja álcool. 70 folha de coca As folhas do arbusto da coca (Erythroxylon coca), tradicional- mente mascadas ou chupadas com uma pequena porção de cinzas alcalinas, são utilizadas nas culturas andinas como estimulante e supressor do apetite e também para aumentar a resistência em grandes altitudes. A cocaína é extraída das folhas da coca. fórmula de Jellinek Um método de avaliar o número de alcoolistas numa população, proposto originalmente por E. M. Jellinek, por volta de 1940, e integral- mente publicado em 195113. Na versão final, a fórmula era A = (PD/K) R, na qual A é o número de alcoolistas; D é o número de mortes devidas a cirrose notificadas num determinado ano; supõe-se que P, K, e R sejam constantes, refletindo a proporção de mortes por cirrose devidas a alcoolismo, a percentagem de alcoolistas com complicações e que morrem de cirrose num determinado ano e a relação entre a totalidade de alcoolistas e os alcoolistas com complicações, respectivamente. Tanto a suposição que P, K e R são constantes como a própria base conceitual da fórmula foram objeto de críticas cada vez mais severas, e o próprio Jellinek recomendou, por volta de 1959, o seu abandono. Não obstante, a fórmula, por falta de alternativas, continuou a ser muito utilizada até os anos 1970. fumar passivo A inalação involuntária da fumaça, geralmente de cigarro, de outra pessoa que esteja fumando. Cunhado nos anos 1970, em conexão com estudos dos efeitos de tal inalação, o termo ajudou a chamar a atenção para os efeitos prejudiciais do fumo para as pessoas situadas no ambiente do fumante. Sinonímia: exposição ambiental à fumaça de tabaco 13 WHO Expert Committee on Mental Health. Report of the First Session of the Alcoholism Subcommittee. Geneva, World Health Organization, 1951 (WHO Technical Report Series, No. 42); Annex 2, Jellinek estimation formula. 71 gastrite alcoólica (K29.3) A inflamação do revestimento mucoso do estômago causada pelo álcool. Ocorre caracteristicamente após um período de alcooli- zação excessiva (veja beber excessivo) e é caracterizada por erosões da mucosa, a qual pode sangrar. Os sintomas incluem dor na parte superior do abdômen e pode haver uma hemorragia gástrica. A gastrite alcoólica é comumente acompanhada por esofagite. Na maioria dos casos esta situação é auto-limitada e desaparece com a abstinência. grupos de ajuda mútua Um grupo no qual os participantes se ajudam uns aos outros para se recuperar ou manter a remissão da dependência ou de problemas ligados ao álcool ou a outras drogas ou dos efeitos da dependência de outras pessoas, sem terapia ou orientação profis- sional. Os Alcoólicos Anônimos, os Narcóticos Anônimos e os Al- Anon (para membros das famílias de alcoolistas), que fazem parte da ampla variedade de grupos que seguem os 12 passos baseados numa abordagem espiritual não confessional, são importantes grupos deste tipo no campo do álcool e outras drogas. Os grupos de ajuda mútua no campo do álcool datam dos Washingtonianos de 1840 e incluem grupos baseados na Europa, como Blue Cross, Gold Cross, grupos Hudolin e Links. A abordagem de alguns desses grupos possibilita uma orientação profissional ou semiprofissional. No campo do álcool, algumas pensões protegidas ou casas de recuperação e as comu- nidades terapêuticas para os dependentes de outras drogas podem ser considerados como grupos residenciais de ajuda mútua. A expressão “grupo de auto-ajuda” é mais usada, mas “grupo de ajuda mútua” expressa com mais precisão o importância da ajuda e do apoio mútuos. 72 grupo de auto-ajuda Uma expressão que se refere a dois tipos de grupos terapêu- ticos, mas é mais comumente usada para o que é mais propriamente chamado de grupo de ajuda mútua, que exprime mais rigorosamente a ênfase na ajuda e apoios mútuos. Também se refere a grupos que ensinam técnicas de autocontrole cognitivo-comportamentais e outras. grupo dos 12 passos Um grupo de ajuda mútua baseado no programa de 12 passos dos Alcoólicos Anônimos (AA) ou uma adaptação próxima deste programa. O programa de 12 passos dos AA implica a admissão da incapacidade para controlar o próprio beber e a própria vida conseqüente do beber, a entrega da própria vida a um “poder supe- rior”, fazer um inventário moral e reparações dos erros do passado e oferecer ajuda a outros alcoolistas. Um alcoolista em recuperação “no programa” nunca mais deve beber, embora este objetivo seja cumprido dia a dia. O AA é organizado nos termos de “doze tradições”, que incluem anonimato, posicionamento apolítico e uma estrutura organi- zacional não hierárquica. Outros grupos de 12 passos variam quanto a sua adesão às 12 tradições. Existem atualmente centenas de organizações de grupos de 12 passos, cada uma focalizada especificamente em problemas compor- tamentais, de personalidade ou de relacionamento. Outros grupos operantes na área de drogas incluem os Cocainômanos Anônimos, Drogados Anônimos, Narcóticos Anônimos, Fumadores Anônimos e Dependentes Anônimos de Comprimidos. Para familiares de alcoo- listas ou de dependentes de outras substâncias existem grupos como Al-Anon, Alateen e Co-Dependentes Anônimos. 14 Expert Committee on Addiction-Producing Drugs. Seventh report of the WHO Expert Committee. Geneva, World Health Organization, 1957 (WHO Technical Report Series, No. 116). 15 WHO Expert Committee on Addiction-Producing Drugs. Thirteenth report of the WHO Expert Committee. Geneva, World Health Organization, 1964 (WHO Technical Report Series, No. 273). 75 inalantes Veja substâncias voláteis. incapacidade de abster-se Uma forma de controle prejudicado do uso de uma subs- tância psicoativa, de tal forma que há uma incapacidade ou falta de vontade de abster-se do seu uso. Segundo a formulação de Jellinek de 1960, esta é uma das duas formas de perda do controle, sendo a outra a incapacidade de parar uma vez iniciado o uso. Veja também: alcoolismo; tipologia de Jellinek. incapacidade relacionada com álcool ou droga Qualquer problema, doença ou outra conseqüência do uso nocivo, da intoxicação aguda ou da dependência que inibe a capacidade individual de agir normalmente no contexto de atividades sociais ou econômicas. O declínio do funcionamento social ou da ativi- dade física que acompanha a cirrose alcoólica, a infecção pelo VIH relacionada a droga ou a lesão traumática relacionada ao álcool são exemplos dessa incapacidade. Veja também: problema relacionado com drogas; problema rela- cionado com o álcool. intervenção breve Uma estratégia de tratamento na qual se oferece uma terapia estruturada de curta duração (normalmente de 5 a 30 minutos) com o objetivo de auxiliar um indivíduo a parar ou reduzir o uso de substâncias psicoativas ou (menos comumente) a lidar com outras questões de vida. É particularmente adequada para clínicos gerais e outros agentes de cuidados primários de saúde. Até hoje a intervenção breve – algumas 76 vezes conhecida como intervenção mínima – tem sido aplicada princi- palmente para se parar de fumar e como terapia do uso prejudicial do álcool. A base lógica para a intervenção breve é que, mesmo se o percentual dos indivíduos que alteram o uso de substâncias após uma única intervenção é pequeno, o impacto causado na saúde pública pelo grande número de locais de cuidados primários de saúde a proporcio- narem tais intervenções sistematicamente é considerável. A intervenção breve está geralmente associada a testes de triagem para identificar o uso perigoso ou prejudicial de substâncias, principalmente o álcool e o tabaco. Veja também: intervenção precoce. intervenção precoce Uma estratégia terapêutica que combina a detecção precoce do uso perigoso ou prejudicial de substâncias e o tratamento das pessoas com esses padrões de uso. O tratamento é oferecido ou proporcionado antes que os pacientes se apresentem por vontade própria e, em muitos casos, antes que eles estejam conscientes que o uso dessas substân- cias pode causar problemas. É dirigida particularmente a indivíduos que não desenvolveram dependência física nem grandes complicações psicossociais. A intervenção precoce é, portanto, um tratamento pró-ativo, é iniciado mais pelo agente de saúde do que pelo próprio paciente. O primeiro estágio consiste em um procedimento sistemático de detecção precoce. Há várias abordagens: um inquérito de rotina, durante a história clínica, do uso de álcool, tabaco e outras drogas e o uso de testes de triagem em locais de cuidados primários de saúde, por exemplo. Fazem-se perguntas suplementares para confirmar o diagnóstico. O segundo componente, o tratamento, geralmente é breve e ocorre em locais de cuidados primários de saúde (durando em média de 5 a 30 minutos). O tratamento pode ser mais prolongado em outros locais. Veja também: intervenção breve. 77 intoxicação Uma situação conseqüente à administração de uma substância psicoativa e que resulta em perturbações do nível da consciência, da cognição, da percepção, do juízo crítico, do afeto, do comportamento ou de outras funções e reações psicofisiológicas. As perturbações estão relacionadas com a substância através dos efeitos farmacoló- gicos agudos e das reações aprendidas relativos à substância e desa- parecem completamente com o tempo, exceto quando houver surgido lesões teciduais ou outras complicações. O termo é mais comumente utilizado em relação ao uso de álcool; seu equivalente da linguagem diária é “embriaguez”. A intoxicação pelo álcool manifesta-se por rubor facial, fala empastada, marcha instável, euforia, hiperatividade, volubilidade, perturbação da conduta, diminuição do tempo de reação, juízo crítico perturbado, descoordenação motora, insensibilidade ou estupor. A intoxicação aguda depende muito do tipo e da dose da droga e é influenciada pelo nível individual de tolerância e por outros fatores. Muitas vezes uma droga é consumida exatamente para se conseguir um grau desejado de intoxicação. A expressão comportamental de um determinado grau de intoxicação é fortemente influenciada pelas expectativas culturais e pessoais acerca dos efeitos da droga. Intoxicação aguda é o termo empregado na CID-10 para designar uma intoxicação com importância clínica (F1x 0). As compli- cações podem incluir traumatismos, aspiração do vômito, delirium, coma e convulsões, dependendo da substância e do método de administração. A intoxicação habitual (ou embriaguez habitual), expressão usada basicamente em relação ao álcool, designa um padrão regular ou recorrente de beber até à intoxicação. Tal padrão às vezes é consi- derado como um delito, independentemente de episódios isolados de intoxicação. Outros termos gerais para intoxicação ou intoxicado incluem: 80 legalização Medidas legais que tornam legal um comportamento, um produto ou uma condição previamente considerados como crime. Veja também: descriminalização. LSD Veja alucinógeno. 81 maconha (Bras.) Veja cânabis. marcador Veja marcador biológico. marcador biológico Um composto ou atributo biológico que evidencia a presença de um transtorno específico ou uma vulnerabilidade ao mesmo. Em geral, distinguem-se dois tipos de marcadores. Um marcador de estado identifica uma anormalidade corrente que, mais comumente, assinala uma condição transitória ou reativa do indivíduo, tal como o nível de atividade de um transtorno subjacente ou o uso recente de uma droga. Um indicador de traço identifica uma característica relati- vamente estável e duradoura, que assinala uma condição contínua ou, particularmente no caso de um indicador genético, uma predisposição a um transtorno específico. A maioria dos marcadores biológicos usados para o álcool e outras drogas é constituída por indicadores de estado e muitos deles apenas refletem a história recente do seu consumo. Um alto teor alcoólico no sangue, por exemplo, pode identificar um estado de intoxicação alcoólica, mas não confirma uma dependência do álcool. Muitos (porém não todos) indicadores de estado usados para o álcool são na realidade exames de dano hepático (tais como glutamiltrans- ferase elevada no plasma). São testes diagnósticos de alterações do estado do fígado decorrentes da ingestão contínua de álcool e não indicadores válidos de dependência de álcool. Outros indicadores de estado do consumo excessivo de álcool, de natureza biológica, incluem a dessialotransferina e alguns adutores acetaldeídicos de proteína ou seus anticorpos. Veja também: teste de triagem. 82 marijuana (marihuana) Veja cânabis. má-viagem No jargão de usuários de drogas, um efeito adverso do uso de drogas que consiste em qualquer na combinação dos seguintes sintomas: sensação de perda de controle, distorções da imagem corporal, alucinações bizarras a e apavorantes, medos de enlouquecer ou de morrer, desespero, ideação suicida e intensos afetos negativos. Os sintomas físicos podem incluir sudorese, palpitações, náuseas e parestesias. Embora as reações adversas deste tipo estejam habi- tualmente associadas ao uso de alucinógenos, podem também ser causadas pelo uso de anfetaminas e outros estimulantes psicomo- tores, anticolinérgicos, anti-histamínicos e sedativos/hipnóticos. Sinonímia: bode. meperidina Veja petidina. mescalina Uma substância alucinogênica que se encontra no cacto peyote, no sudoeste dos Estados Unidos da América e no norte do México. Veja também: alucinógeno; planta alucinógena. metadona Uma droga opiácea sintética usada na terapia de manutenção dos dependentes de opióides. Tem uma longa semivida e pode ser 85 Narcóticos Anônimos Veja grupo de ajuda mútua. NAS Veja teor alcoólico no sangue. necessidade imperiosa Veja craving. neuroadaptação As modificações neuronais associadas tanto à tolerância como à instalação de um síndrome de abstinência. É possível que um indivíduo tenha uma neuroadaptação sem apresentar as manifes- tações cognitivas ou comportamentais da dependência. Pacientes cirúrgicos que receberam substâncias opiáceas para aliviar a dor, por exemplo, podem por vezes sentir sintomas de abstinência, mas não os reconhecem como tal, nem têm qualquer desejo de continuar a receber o medicamento. neuroléptico Uma classe de drogas utilizadas no tratamento de psicoses agudas e crônicas. Também são conhecidas como tranqüilizantes maiores e antipsicóticos. Os neurolépticos englobam as fenotiazinas (por exemplo, clorpromazina, tioridazina, flufenazina) e as butirofe- nonas (por exemplo, haloperidol). Os neurolépticos têm baixo potencial de abuso (veja abuso de substâncias que não produzem depen- dência). 86 neuropatia periférica Transtorno e alteração funcional dos nervos periféricos. Pode manifestar-se através de entorpecimento de extremidades, parestesia (sensação de alfinetadas e agulhadas), fraqueza dos membros ou emaciação dos músculos e perda de reflexos tendinosos profundos. A neuropatia periférica pode ser acompanhada por perturbações do sistema nervoso autônomo, com conseqüente hipotensão postural. A má nutrição, principalmente a deficiência de vitamina B decor- rente do uso arriscado de álcool, é uma causa comum de neuropatia periférica. Outras drogas, como os opióides, podem causar esta síndrome, ainda que raramente. Sinonímia: polineuropatia. nicotina Um alcalóide que é a principal substância psicoativa do tabaco. Tem efeitos tanto estimulantes quanto relaxantes. Produz um efeito de alerta no eletroencefalograma e, em alguns indivíduos, um aumento na capacidade de focalização da atenção. Em outros, reduz a ansie- dade e a irritabilidade. A nicotina é utilizada sob forma de inalação da fumaça do tabaco ou como “tabaco sem fumaça” (tabaco de mascar), rapé ou goma de mascar com nicotina. Cada tragada de fumaça de tabaco inalada contém nicotina que é rapidamente absorvida através dos pulmões e chega ao cérebro em segundos. A nicotina provoca uma tolerância e uma dependência consideráveis. Devido ao seu rápido metabolismo, os níveis cerebrais de nicotina caem rapidamente e o fumante sente um desejo intenso (craving) de mais um cigarro, 30-45 minutos depois de fumar o último. No usuário de nicotina que se tornou fisicamente dependente, desenvolve-se uma síndrome de abstinência depois de algumas 87 horas da última dose: necessidade imperiosa (craving) de fumar, irri- tabilidade, ansiedade, raiva, dificuldade de concentração, aumento do apetite, diminuição da freqüência cardíaca e, por vezes, dor de cabeça e perturbações do sono. O desejo intenso tem seu pico em 24 horas e declina ao longo de várias semanas, apesar de poder ser evocado por estímulos associados a hábitos de fumar anteriores. O tabaco contém várias outras substâncias além da nicotina. O uso prolongado do tabaco pode resultar em câncer do pulmão, cabeça ou pescoço, em doenças cardíacas, em bronquite crônica, em enfi- sema e em outros transtornos físicos. A dependência de nicotina (F17.2) está classificada na CID-10 como um transtorno por uso do tabaco em transtorno por uso de substância psicoativa. nitrito de amila Um dos nitritos alifáticos, um inalante volátil que é irritante para a mucosa respiratória e também um potente vasodilatador. É usado terapeuticamente para aliviar a dor da angina pectoris e da cólica biliar. É usado não terapeuticamente como um “disparador” – durante ou próximo ao momento do orgasmo – para aumentar e prolongar o prazer sexual. Veja também: substâncias voláteis. noz de betel Mascar betel é muito comum em algumas partes da Ásia e das ilhas do Pacífico. A noz de betel, uma grande semente de uma palmeira asiática (Areca catechu), é embrulhada na folha da pimenteira de betel (Piper betel), às quais é adicionada uma pitada de lima queimado e aromatizantes. Em contato com a saliva, a mistura libera arecolina, um anticolinérgico estimulante do SNC algo similar à nicotina. Mascar 90 nência caracteriza-se por uma necessidade imperiosa (craving) da droga, ansiedade, disforia, bocejos, sudorese, piloereção (arrepios), lacrimejamento, rinorréia, insônia, náuseas ou vômitos, diarréia, câim- bras, dores musculares e febre. Com drogas de ação curta, como a morfina e a heroína, os sintomas de abstinência aparecem dentro de 8-12 horas após a última dose, atingem o pico em 48-72 horas e desa- parecem depois de 7-10 dias. Com drogas de ação mais prolongada, como a metadona, o início dos sintomas de abstinência pode ocorrer só 1-3 dias depois da última dose e o seu pico se dá entre o terceiro e o oitavo dia, e podem persistir por várias semanas, mas geralmente são mais leves do que os que acompanham a abstinência de morfina ou heroína, em doses equivalentes. Há várias seqüelas físicas decorrentes do uso de opióides, prin- cipalmente como resultado do método de administração usual, o endovenoso. Estas incluem: hepatite B, hepatite C, infecção pelo VIH, septicemia, endocardite, pneumonia e abscessos pulmonares, trom- boflebite e rabdomiólise. São notáveis as perturbações psicológicas e sociais, freqüentemente resultantes da natureza ilícita da utilização não médica destas drogas. opióide endógeno Qualquer dos neuropeptídeos que ocorrem naturalmente no cérebro, que incluem ao menos dois grupos principais: as encefalinas e as endorfinas. Ambos podem interagir com receptores de ligação de opiáceos e podem, portanto, modular a percepção da dor. Além disso, as endorfinas parecem modular o humor e as respostas a estímulos estressantes. Veja também: opióide overdose Veja superdose. 91 pancreatite alcoólica (K86.0) Um transtorno relacionado com o consumo de álcool em níveis arriscados caracterizado por inflamação e necrose do pâncreas, freqüentemente acompanhado de fibrose e disfunção pancreática. A pancreatite alcoólica pode ser aguda ou crônica . A forma aguda apresenta-se com dor abdominal alta, anorexia e vômitos e pode ser complicada com hipotensão, falência renal, doença pulmonar e psicose. A crônica geralmente apresenta-se com dor abdominal recorrente ou persistente, anorexia e perda de peso; pode haver sinais de deficiência pancreática envolvendo as funções exócrinas do pâncreas (por exemplo, má absorção, deficiência nutricional) ou as endócrinas (diabetes mellitus). paranóia alcoólica (F10.5) Um tipo de transtorno psicótico induzido pelo álcool no qual se destacam os delírios de auto-referência ou persecutórios. O ciúme alcoólico é algumas vezes incluído como uma forma de paranóia alco- ólica. paranóia amorosa Veja ciúme alcoólico. paranóia conjugal Veja ciúme alcoólico. partilha de agulhas A utilização de seringas ou outros instrumentos de injeção (por exemplo, conta-gotas) por mais de uma pessoa, particularmente como 92 método de administração de drogas. Esta prática acarreta o risco de transmissão de vírus (tais como o VIH ou o da hepatite B) e bactérias (o Stafilococcus aureus, por exemplo). Muitas intervenções, como a manutenção com metadona e a permuta de agulhas/seringas, têm como objetivo eliminar parcial ou totalmente a partilha de agulhas. pasta de coca O produto do primeiro passo do processo de extração da cocaína das folhas de coca. Contém 50-90% de sulfato de cocaína e impurezas tóxicas como querosene e ácido sulfúrico. É fumada na América do Sul com cânabis, com tabaco ou sozinha. A pasta de coca misturada com cânabis e/ou tabaco é conhecida como pitillo na Bolívia e bazuco na Colômbia. PCP Veja fenciclidina. peiote Botões alucinógenos de vários tipos de cactos (Lophophora williamsii, Anhalonium lewinii). O agente psicoativo do peiote é a mescalina. Veja também: alucinógeno. pelagra (E52) Uma síndrome de deficiência nutricional causada por falta de niacina (vitamina B6 ou ácido nicotínico) ou do aminoácido essencial triptofano (que pode ser convertido em niacina). Caracteriza-se por confusão, depressão, dermatite simétrica que afeta as partes do corpo expostas à luz e sintomas gastrintestinais, especialmente diarréia. 95 pó de anjo Veja fenciclidina. polineuropatia Veja neuropatia periférica. política farmacêutica Sistema de regulamentação que visa ordenar a oferta e a demanda de medicamentos. É sinônimo de política sobre drogas no Programa de Ação de Medicamentos Essenciais da OMS. Nos países escandinavos equivale a “política de medicamentos”. A política de drogas psicoativas normalmente é um de seus componentes impor- tantes, em virtude da grande proporção de receitas médicas destas drogas. política de drogas No contexto de drogas psicoativas, é o conjunto de políticas destinadas a combater o fornecimento e/ou a demanda de drogas ilícitas, local ou nacionalmente, incluindo a educação, o tratamento, o controle e outros programas e políticas. Neste contexto, “política de drogas” não inclui a política farmacêutica (exceto quando há uso não médico), a política do tabaco nem a política do álcool. No contexto do Programa de Ação de Medicamentos Essenciais da OMS, “política nacional de drogas”, refere-se a uma política farma- cêutica nacional que diz respeito à propaganda, à disponibilidade e ao uso terapêutico de medicamentos. A OMS recomenda que todo país tenha uma política deste tipo, formulada no contexto de um plano de saúde nacional. A Lista de Medicamentos Essenciais da OMS é um esforço para auxiliar os países em desenvolvimento a desenvolverem 96 uma política farmacêutica que leve em consideração as necessidade de saúde, e não as pressões comerciais, para a alocação dos escassos recursos destinados a produtos farmacêuticos.16 política do álcool O conjunto das medidas destinadas a controlar o fornecimento ou a afetar a procura de bebidas alcoólicas numa população (geral- mente nacional), incluindo a educação e os programas de tratamento, o controle do álcool, as estratégias de redução de danos etc. O termo teve origem em países escandinavos, como resultado da necessidade de uma coordenação de esforços governamentais de saúde pública e/ou a partir de uma perspectiva de ordem pública, e desde os anos 1960 tem tido uma ampla difusão. politoxicomania Veja uso de múltiplas drogas. 16 A política de drogas psicoativas normalmente é um dos componentes importantes da política farmacêutica nacional, principalmente se considerarmos a grande proporção de receitas médicas destas drogas que resulta em uso arriscado ou prejudicial, ou mesmo em dependência dessas drogas consideradas lícitas por essa mesma política. A atual política brasileira de drogas é definida em duas leis básicas, a LEI Nº 6.368, DE 21 DE OUTUBRO DE 1976 - Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, e dá outras providências, e a LEI No 10.409, DE 11 DE JANEIRO DE 2002 - Dispõe sobre a prevenção, o tratamento, a fiscalização, o controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícitos de produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica, assim elencados pelo Ministério da Saúde, e dá outras providências. Atualmente (agosto de 2004), tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº 7.134 de 2002 que Dispõe sobre o Sistema Nacional Antidrogas; sobre a prevenção, a repressão e o trata- mento; define crimes, regula o procedimento nos crimes que define e dá outras providência. 97 potencial de dependência A propensão que tem uma substância para gerar um estado de dependência, como conseqüência de seus efeitos fisiológicos ou psicológicos. O potencial de dependência é determinado pelas proprie- dades farmacológicas intrínsecas da substância, os quais podem ser avaliados em animais e em seres humanos através de procedimentos laboratoriais. Veja também: risco de abuso. prevenção da recaída Um conjunto de procedimentos terapêuticos empregados para ajudar indivíduos com problemas relacionados ao álcool ou a outra droga a evitarem ou enfrentarem uma recaída ou deslize. Os proce- dimentos podem ser usados em combinação com outros tratamentos e abordagens terapêuticas, desde que baseados na moderação e na abstinência. Através desta técnica é possível ensinar ao paciente estratégias de enfrentamento para evitar situações consideradas como perigosos precipitantes de recaída e, através de repetição mental e de outras técnicas, a minimizar o uso da substância uma vez que um deslize tenha ocorrido. problema relacionado com drogas Qualquer dos múltiplos efeitos adversos do uso de drogas, particularmente do uso de drogas ilícitas. “Relacionado” não implica necessariamente causalidade. A expressão foi cunhada por analogia com problema relacio- nado com o álcool, mas é menos usada, uma vez que o uso de drogas em si, mais do que suas conseqüências, tende a ser considerado como o problema e pode ser usado para se referir tanto a problemas indivi- duais quanto sociais. No controle de drogas internacional, levam-se