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A psicologia ambiental no estudo das questões humano-ambientais, Notas de estudo de Psicologia

Neste artigo, o autor responde às perguntas norteadoras baseado no banco de dados do Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPq e no Banco de Teses da CAPES. Coloca-se inicialmente a partir de sua experiência profissional e como coordenador da REPALA, apresentando algumas características positivas da área e algumas das dificuldades enfrentadas.

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 31/08/2009

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thaisa-r-4 🇧🇷

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Baixe A psicologia ambiental no estudo das questões humano-ambientais e outras Notas de estudo em PDF para Psicologia, somente na Docsity! Psicologia USP, 2005, 16(1/2), 103-113 103 O LUGAR E O PAPEL DA PSICOLOGIA AMBIENTAL NO ESTUDO DAS QUESTÕES HUMANO-AMBIENTAIS, SEGUNDO GRUPOS DE PESQUISA BRASILEIROS1,2 José Queiroz Pinheiro 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte Neste artigo, o autor responde às perguntas norteadoras baseado no banco de dados do Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPq e no Banco de Teses da CAPES. Coloca-se inicialmente a partir de sua experiência profissional e como coordenador da REPALA, apresentando algumas características positivas da área e algumas das dificuldades enfrentadas. A partir da análise dos dados levantados discute, entre outros tópicos, a relação entre a psicologia e a Psicologia Ambiental, apontando a presença de várias psicologias ambientais. Apresenta sugestões para um desenvolvimento harmonioso e produtivo da área. Descritores: Psicologia ambiental. Objeto. Grupos de pesquisa. Teses. ostaria de começar minha apresentação pela analogia do elefante, que Robert Gifford apresentou anteriormente aqui, como uma metáfora para este nosso encontro. 4 Imaginar que vamos conhecer todo o elefante é pretensão demais para um encontro desse porte. Isso iria demandar muito 1 O autor agradece ao CNPq, pelo apoio para a realização deste estudo, e a Dianne P. B. A. Sousa, bolsista de iniciação científica (Psicologia/UFRN), pela participação. 2 Transcrição: Kátia de Bonis. 3 Membro do corpo docente do programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e editor de Estudos de Psicologia. Endereço eletrônico: pinheiro@cchla.ufrn.br G José Queiroz. Pinheiro 104 mais tempo mas, talvez, seja possível contribuirmos para que possamos i- dentificar de que partes do elefante cada um de nós está tratando. E até ir um pouco além disso: não só conhecer a nossa própria parte, mas também co- nhecer as partes de que os colegas estão tratando. Isso é muito importante para podermos realizar uma cooperação entre grupos. Meu referencial neste caso é a minha própria experiência como parti- cipante de um grupo de pesquisa na área e, mais recentemente, coordenador de uma lista de discussão na internet, chamada REPALA - Rede de Psicolo- gia Ambiental Latino-Americana -, que tem servido para nos ensinar muito. Apresentarei, brevemente, apenas uma parte do estudo que havia planejado apresentar e, se houver pessoas interessadas, posteriormente poderei forne- cer mais informações. O primeiro ponto para o qual queria chamar a atenção é que quem tra- balha em contato com turmas de graduação de Psicologia está acostumado a ver o aluno, aqui do Brasil, ter uma perspectiva muito positiva com relação à Psicologia Ambiental. Quando esses alunos ouvem falar pela primeira vez a respeito de Psicologia Ambiental, reagem dizendo algo como: “Ah! Que interessante!”. Parece que, para eles, faz sentido existir um ambiental na Psicologia. Não é só o aluno de graduação que tem essa perspectiva. Em um le- vantamento realizado pela CAPES 5 (órgão do Ministério da Educação), entre pesquisadores da área de psicologia, procurou-se conhecer as lacunas de formação pós-graduada. Os pesquisadores consultados apontaram a Psi- cologia Ambiental como a terceira lacuna mais importante, e algumas das justificativas apresentadas foram: “importância da área para a sociedade ou para determinada região”, “inexistência ou insuficiência de programas”, “importância da área por sua natureza interdisciplinar”, “importância em outros países”, “existe demanda de profissionais qualificados na área”, e “é 4 Ver analogia do elefante no texto da comunicação apresentada por David Uzzell, às páginas 185-199. 5 CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior O Lugar e o Papel da Psicologia Ambiental no Estudo das Questões... 107 cologia ambiental” na identificação do próprio grupo. Os demais a usam de diferentes formas: raramente na linha de pesquisa que adotam, ou na palavra chave dessa linha de pesquisa; na grande maioria dos casos utilizam a ex- pressão “psicologia ambiental” nas produções realizadas, e sempre de uma maneira que identifica a Psicologia Ambiental muito mais como campo de estudo, do que como disciplina (Sommer, 2000). Assim, esse levantamento sugere que a Psicologia Ambiental não atende a necessidade de identificação de um grupo de pesquisa na realidade acadêmica brasileira, no sentido de os grupos não utilizarem a Psicologia Ambiental para se auto-identificarem, seja no título do grupo, seja na linha de pesquisa. A presença da Psicologia Ambiental também pode ser investigada nas referências constantes das produções bibliográficas desses grupos, ou das orientações acadêmicas realizadas (iniciação científica, dissertações de mes- trado ou teses de doutorado). A grande maioria da produção desses grupos é em resumos de trabalhos apresentados em congressos; há apenas alguns poucos artigos em periódicos científicos. Aproveitando o contexto de orientação acadêmica, fiz um levanta- mento adicional no Banco de Teses da CAPES. Já estão disponíveis para o usuário de internet informações a respeito de teses de doutorado e disserta- ções de mestrado que tenham sido defendidas em instituições reconhecidas pelo Ministério de Educação. Fazendo o mesmo tipo de busca (“psicologia ambiental”, como expressão exata em qualquer dos campos), foi possível encontrar quinze trabalhos: cinco de doutorado e dez de mestrado. Desses quinze trabalhos, apenas um tinha psicologia ambiental no seu título, os de- mais foram localizados na busca eletrônica porque usavam a expressão co- mo palavra-chave ou, na grande maioria dos casos, por que a incluíam no resumo, em geral como fonte de informação (por exemplo, “esse estudo se baseia num conjunto de informações da área de Psicologia Ambiental”). Convém observar ainda que no Diretório Nacional de Grupos de Pes- quisa do CNPq o usuário da internet pode também consultar os currículos dos pesquisadores. Assim, é possível constatar que a grande maioria dos pesquisadores que tem título de doutor e vínculo com psicologia ambiental José Queiroz. Pinheiro 108 possui doutorado bastante recente, o que pode ser visto como um dado pro- missor, porque se contrapõe à qualidade ainda incipiente da produção bibli- ográfica. Mais da metade dos doutores que figuram nesse levantamento con- cluíram o doutorado após 1995; apenas uns poucos estavam titulados antes disso. Eu chamo a atenção para esse dado, porque é importante considerar- mos que leva alguns anos para um doutor se estabelecer institucionalmente, montar uma equipe de pesquisa, definir um programa de investigação, arre- gimentar alunos de pós-graduação, como sabem os colegas aqui presentes que trabalham com pós-graduação. Um outro aspecto importante é que, no caso desses doutores com for- mação no país, não houve continuidade entre gerações acadêmicas. Os dou- tores que aparecem no levantamento porque indicam sua produção pessoal como sendo de Psicologia Ambiental foram formados por orientadores cuja produção é identificada como sendo de áreas como Psicologia Comunitária e Psicologia Social, entre outras. Ainda não temos entre nós uma segunda geração formada dentro do campo da Psicologia Ambiental. Portanto, o per- fil que essa área vai assumir aqui no Brasil vai depender dos objetivos e esforços dos que tomarem para si a condução acadêmica, científica, mas também política dos fatos. Os desdobramentos da Psicologia Ambiental em nosso país encontra- rão um cenário mais complicado, até mesmo por causa das conhecidas riva- lidades acadêmicas que, em minha opinião, ainda não afetaram diretamente a Psicologia Ambiental, por ela ainda ser “terra de ninguém”, um território meio neutro justamente por não ter acesso a recursos, por não ter visibilida- de na academia. O cenário tenderá a se tornar mais complicado também porque, como diz Wiesenfeld (2001), “uma vez consolidadas as formas al- ternativas de conhecer, investigar e construir conhecimento, a essa diversi- dade temática inicialmente detectada, somam-se modos não necessariamente complementares, mas inclusive opostos, de enfrentar os desafios a que nos propomos” (p. 38). Alguns dos participantes daquela lista de discussão que mencionei an- tes, a REPALA, parecem estar cientes dessas dificuldades e dispostos a con- O Lugar e o Papel da Psicologia Ambiental no Estudo das Questões... 109 tinuar a bordo desse barco. Em uma das mensagens, uma das participantes dizia: “temos agora uma oportunidade ímpar para discutirmos questões sé- rias da área”, e depois acrescentava: “e o nome que se dá a essa área, certa- mente, vai ainda trazer mais tensão e incertezas, tanto na geração de conhe- cimento como, principalmente, na prática profissional”. “Essa discussão não é nova”, ela dizia, “mas ainda está em pauta” (U. R. Santee, 21 de novembro de 2001). Em função desse levantamento e de minhas experiências prévias na área, gostaria de encaminhar algumas reflexões relacionadas à discussão que estamos tendo neste encontro. Gostaria de apontar, ainda que de modo possivelmente repetitivo para alguns dos presentes, que temos, na verdade, várias psicologias ambientais. Em primeiro lugar, temos pessoas que se classificam como de Psicologia Ambiental, mas nitidamente fazem um trabalho de Psicologia; que elegeram tópicos relacionados direta ou indiretamente às questões ambientais, sendo essa a grande parcela de trabalhos na área. É a Psicologia que se volta para as questões ambientais. Em um segundo tipo, há o que eu chamaria de “o estudo dos aspectos psicológicos presentes nas interações humano- ambientais”, ou seja, a ênfase é nas relações humano-ambientais, e o recorte, psicológico. No terceiro caso teríamos aquilo que aqui no Brasil passou a ser chamar de “o Ambiental”, uma definição vaga não por acidente, uma carac- terização bem ampla para poder arregimentar profissionais de diferentes formações (um exemplo deste caso poderia ser a recém criada ANPPAS, Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ambiente e Socieda- de). O enquadre de uma pessoa nesses três tipos vai depender dos propósitos de cada um, de características pessoais, da formação teórica e profissional, dos recursos institucionais de que a pessoa dispõe, etc., não sendo incomum a atuação do indivíduo em mais de uma dessas situações. Eu me lembro, por exemplo, que, anos atrás, em um Congresso da SIP (Sociedade Interameri- cana de Psicologia), Gabriel Moser sugeria que nós, psicólogos ambientais, deveríamos participar de eventos que fossem eminentemente psicológicos e também de eventos necessariamente interdisciplinares. Vários de nós faze- mos isso, participando, por exemplo, das reuniões da SIP e, ao mesmo tem- José Queiroz. Pinheiro 112 domínio de nenhuma disciplina acadêmica, o que é uma grande vantagem. Se ela é imprecisa, por outro lado ela não é território de ninguém e pode servir de guarda-chuva, de objetivo comum, de ponto de convergência entre Psicologia Ambiental e outras áreas de conhecimento dedicadas ao estudo das relações pessoa-ambiente. Via sustentabilidade, a Psicologia Ambiental poderia também se apro- ximar de outras áreas da própria Psicologia. Embutida na noção de sustenta- bilidade está a questão da solidariedade intra-geração, a questão da coopera- ção, o que faz uma ponte fantástica com a Psicologia Social. Quando consideramos a solidariedade entre gerações - nós e as gerações futuras - temos uma ponte muito interessante com outros domínios psicológicos, no sentido de entender como funciona a perspectiva temporal para se alcançar a sustentabilidade. Pinheiro, J. Q. (2005). The place and role of environmental psychology in the study of human-environmental issues, according to brazilian research groups. Psicologia USP, 16(1/2), 103-113. Abstract: In this article, the author answers the guiding questions based on the database of Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPq (research groups enrolled at CNPq – Brazilian Council of Scientific and Technological Development), and on the Collection of Theses of CAPES (Brazilian Ministry of Education’s foundation for the qualification of higher education professors). He begins by commenting on his professional experience and by mentioning that he is the coordinator of REPALA (Latin-American Environmental Psychology Network), presenting some positive characteristics of the area and some difficulties that have been faced. Based on the data analysis he discusses, among other topics, the relation between Psychology and Environmental Psychology, pointing to the existence of many Environmental Psychologies. He presents suggestions for a harmonious and productive development of the area. Index terms: Environmental psychology. Object. Research groups. Theses. O Lugar e o Papel da Psicologia Ambiental no Estudo das Questões... 113 Pinheiro, J. Q. (2005). Le lieu et le rôle de la psychologie de l’environnement dans l’ètude des questions humaines -de l’environnement, suivant des groupes de recherche brésiliens. Psicologia USP, 16(1/2), 103-113. Résumé: Dans cet article, l’auteur répond aux questions dirigées, basé sur la banque de données du Directoire National de Groupes de Recherche du CNPq et sur la Banque de Thèses de la CAPES. Il s’affirme initialement conformément à son expérience professionnelle et en tant que coordinateur de la REPALA, manifestant quelques caractéristiques positives du domaine ainsi que quelques -unes unes des difficultés affrontées. À partir de l’analyse des données rassemblées, il discute, entre autres sujets, de la relation entre la Psychologie et la Psychologie de l’Environnement, signalant la présence de différentes Psychologies de l’Environnement. Il présente des suggestions pour un développement harmonieux et productif de ce domaine. Mots-clés: Psychologie de l’environnement. Objet. Groupes de recherche. Thèses. Referências Barker, R. G. (1968). Ecological psychology. Stanford, CA: Stanford University Press. Borges-Andrade, J. E. (2001). Seminário Nacional “Pós-graduação: enfrentando novos desafios - Psicologia”. Infocapes, 9(2/3), 166-174. Pinheiro, J. Q. (2001). (Um pouco da) psicologia ambiental no Brasil: identidade, incertezas, perspectivas. In E. Tassara (Org.), Panoramas interdisciplinares para uma psicologia ambiental do urbano (pp. 11-26). São Paulo: EDUC / FAPESP. Sommer, R. (2000). Discipline and field of research: A search for clarification. Journal of Environmental Psychology, 20, 1-4. Wiesenfeld, E. (2001). Tendencias y perspectivas de desarrollo en Psicología Ambiental. In E. Tassara (Org.), Panoramas interdisciplinares para uma psicologia ambiental do urbano (pp. 27-49). São Paulo: EDUC / FAPESP. Recebido em 5.04.2004 Revisto e encaminhado em 23.02.2005 Aceito em: 7.03.2005
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